O Ensino Médio e o ensino por competências
pela educadora Carla Rênes (química)
Analisando o cenário educacional nos últimos 50 anos, observamos que a nossa educação tem sido pautada por uma abordagem prioritariamente conteudista estabelecida pelos vestibulares, universidades e entidades de classe, além de uma configuração de ensino majoritariamente passiva. O olhar do educador está, quase que inteiramente, voltado para os conteúdos específicos, reproduzindo, assim, a formação recebida durante a sua escolarização e especialização como docente. No entanto, com a implementação do Novo Ensino Médio, estabelecido pela Lei n° 13.415/2017, temos mais um novo desafio no universo docente: significar e compreender o ensino por competências, que se caracteriza por desenvolver e mobilizar as habilidades, atitudes e valores por meio das áreas do conhecimento, a fim ampliar o olhar para a formação integral do aprendiz e conectar os conhecimentos acadêmicos às questões do mundo real.
Esta nova perspectiva é mais um desafio contemporâneo em um mundo de rápidas transformações, em que nós, educadores, nos deparamos cotidianamente. É reconhecido que o cenário educacional tem inúmeros problemas, que vão desde a falta de investimento em infraestrutura até a desvalorização do professor, com baixos salários e falta de formação continuada, sendo este último uma questão severa na implementação do Novo Ensino Médio. Considerando a relevância de todos os aspectos citados, convidamos à seguinte reflexão quanto ao novo paradigma do Ensino Médio: será que conteúdo acadêmico e competências estão em lados opostos? Esse tema divide opiniões e promove calorosos debates, pois alguns educadores defendem o esvaziamento do conhecimento em sua essência, enquanto que outros educadores refutam esta ideia contrapondo que o conhecimento necessita de relações com questões do mundo real.
E todas essas questões passam por uma reflexão ainda mais ampla que é: qual a finalidade do Ensino Médio para nossa sociedade?
A partir destes desafios, é preciso fazer uma inteira e profunda reelaboração de conteúdos, habilidades, competências e metodologias, a partir da tradição de cada área, do novo formato do Exame Nacional do Ensino Médio e do cenário tecnológico e dinâmico que nos encontramos.
A fim de compreender quais as habilidades necessárias para as demandas contemporâneas,a National Research Council, uma organização norte-americana que realiza pesquisas sobre temas sociais, publicou um livro, em julho de 2012, trazendo considerações acerca das competências do século XXI a serem desenvolvidas na trajetória escolar dos estudantes e em outras dimensões das suas vidas. O livro com o título “Educação para a vida e para o trabalho: Desenvolvendo transferência de conhecimento e habilidades para o século XXI” traz a ideia de competência divididas em três domínios: cognitivo (pensamento crítico, inovação, criatividade), interpessoal (cooperação, negociação, liderança) e intrapessoal (autocuidado, ética, perseverança). No entanto, há habilidades comuns aos três domínios e que fortalecem o desenvolvimento integral do indivíduo.
Corroborando com os domínios citados, o Fórum econômico Mundial (World Forum Economic) também traz dados interessantes a partir de um relatório, revelando as principais habilidades que serão necessárias para sobreviver aos desafios do mercado de trabalho para 2020, entre elas estão a solução de problemas complexos, pensamento crítico, criatividade, inteligência emocional, flexibilidade cognitiva e entre outras.
A partir destas pesquisas, compreendemos como desafios a criação de espaços de aprendizagem que consigam dialogar a construção dos conhecimentos acadêmicos com a mobilização de habilidades, atitudes e valores.
Assim, dentro deste novo paradigma, o desenvolvimento das habilidades e competências prioritárias podem ser estimuladas a partir de metodologias de ensino e aprendizagem contemporâneas, com a criação de currículos inovadores e com novas abordagens educacionais, a fim de promover mais significado e amplitude ao conhecimento e estimulando a autonomia intelectual dos nossos jovens.
E você que, como nós do Portal Jornadas, também acredita na educação de qualidade, qual tem sido o seu maior desafio?